(Edição utilizada para estes comentários) EPICURO."Carta sobre a Felicidade". São Paulo: editora UNESP, 2002.
Carta sobre e Felicidade, esse é o título dado à carta que Epicuro (341-270 a.C.) escreveu a Meneceu, seu discípulo.
Foi com certo pé atrás que resolvi lê-la…Desconfiança gerada não pelo
lugar-comum de que a filosofia epicurista se confunde com o hedonismo
(idéia quebrável com a leitura desta carta), mas pela crença de que a
felicidade total é inalcançável e mesmo indesejável, assim como um
suposto equilíbrio eterno do espírito. Não enxergo a felicidade e a
harmonia como um fim último na vida do ser humano. Tal fim nunca se
daria, até mesmo pela existência constante de ciclos pelos quais todos
aqueles que não se acomodam passam…Ciclos que representam travessias,
superações e que envolvem dores, angústias…
A trilha do auto-conhecimento é eterna, não devemos criar
expectativas de concluí-la para podermos ficar em paz, para sermos
felizes, adquirindo o que Epicuro chama de “saúde do espírito”. Mas
podemos, sim, tornar essa caminhada mais compreensível e encará-la com
mais maturidade e autonomia. É neste ponto que entram as contundentes
recomendações epicuristas, desmontando minha desconfiança.
Para Epicuro, a felicidade do homem deve ser a finalidade da
filosofia e para que o homem atinja uma vida feliz, ele precisa meditar
sobre alguns assuntos…
A MORTE
“A morte não é nada, visto que todo bem e todo mal
residem nas sensações, e a morte é justamente a privação das
sensações”(Epicuro,p.27)
Na carta, fica claro que a morte não deve ser perturbadora para o
sábio, até mesmo porque “quando estamos vivos, a morte não está
presente, quando a morte está presente, nós é que não estamos”(p.29).
Sem mais se afligir com a morte, o homem pode fruir a vida efêmera como
é, ” sem querer acrescentar-lhe tempo infinito e eliminando o desejo de
imortalidade”(p.27). Assim, “o sábio nem desdenha viver, nem teme deixar
de viver; para ele, viver não é um fardo e não-viver não é um
mal”(p.31).
O FUTURO
“O futuro não é nem totalmente nosso, nem totalmente não
nosso, não somos obrigados a esperá-lo como se estivesse por vir com
toda certeza, nem nos desesperarmos como se não estivesse por vir
jamais.”(p.33)
Epicuro preserva a força da vontade humana no desenrolar da vida,
fugindo de fatalismos ao mesmo tempo em que admite a importância da
sociedade e da consciência moral.
PRAZER E DOR
“Todo prazer constitui um bem por sua própria natureza;
não obstante isso, nem todos são escolhidos; do mesmo modo, toda dor é
um mal, mas nem todas devem ser sempre evitadas”(p.39)
É aqui que ele se distancia do hedonismo, do prazer como bem supremo.
Ele busca critérios de benefícios e danos e de qualidade invés de
quantidade. Assim, muitas dores são necessárias e muitos prazeres
indesejáveis para uma vida mais saudável.
DESAPEGO
“desfrutam melhor a abundância, os que menos dependem dela.”(p.41)
Devemos nos habituar às coisas simples, pois sem a exigência pelo
luxuoso e abundante aprende-se a valorizar o pouco quando é o que se tem
e a lidar melhor quando se tem o excesso. “Os alimentos mais simples
proporcionam o mesmo prazer que as iguarias mais requintadas, desde que
se remova a dor provocada pela falta”(p.41).
A PRUDÊNCIA
“exame cuidadoso que investigue as causas de toda escolha
e de toda rejeição e que remova as opiniões falsas perturbadoras do
espírito”(p.45)
É esse exame cuidadoso que Epicuro considera o princípio e o supremo bem, a partir do qual surgem todas as outras virtudes.
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Por fim, concluo como concluiu ele próprio e que façam vocês o proveito que acharem cabível de todas essas sábias palavras.
Epicuro. Fonte:Google images.
“Medita todas estas coisas (…) e viverás
como um deus entre os homens. Porque não se assemelha absolutamente a
um mortal o homem que vive entre bens imortais.”(p.51)
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